Em 20 de janeiro de 1934, as … horas, nasceu o sr. José Ferreira das Chagas, que, com 22 anos se tornaria pai de quem escreveu.
Algumas que mais me marcaram e que lembro ainda:
“Eu vi o pai, tu nem viu”. Diálogo entre mim e o Antônio em SP. Vejamos se ele ainda lembra: me contou que este diálogo o fez voltar de SP para Boa Viagem. Lembra? Muito obrigado Pai.
Morávamos em Boa Viagem. Ele vende tudo que tinha (foi comerciante durante a maior parte da sua vida. Sabia fazer isso muito bem feito e muita coisa mais). Compra gado e criação, coloca sobre seu caminhão e vem vender em Fortaleza. Vendeu tudo. Quando estava para voltar para casa, percebeu que havia sido roubado. Levaram todo o seu dinheiro. Ele volta para casa e conta para a mãe. Algumas horas depois minha mãe escuta ele assoviando (o que gostava muito de fazer) e pergunta: homem, o que tu tem? Roubaram todo o teu dinheiro e tu tá aí assoviando? Ele responde, o que você quer que eu faça? Vou ganhar outro. (Minha obs hoje: ganhou e ganhou muito mais). Não foi ele nem minha mãe que me contaram esta história. Ela fica ainda mais emocionante por ter sido me contada por meu avô Raimundo Balbino, pai da minha mãe. Mais tarde eu vim a perceber o quanto meu avô (homem branco e alto) gostava e admirava este baixinho e moreno de apenas 1 metro e 60, que um dia teve a ousadia de vir pedir a mão da sua filha em casamento.
Amor incondicional por qualquer um. Quando garoto presenciei algumas vezes pessoas pobres baterem na nossa porta, quando morávamos na Vasco da Gama, 536, pedindo um prato de comida. Pelo que lembro todos voltavam com a barriga cheia. O que mais me impressionava e ainda me impressiona até hoje é que alguns destes eram alcoólatras inveterados que voltavam depois e meu pai dava novamente, mesmo que isso incomodasse alguém da nossa casa. Quer mais? Algumas vezes um bebinho terminava de comer e aproveitava e levava o prato para vender. No outro dia, mesmo meu pai recebendo reclamações que não deveria dar mais comida para estes bêbados, o bebim comia novamente. Outras vezes, quando ele não conseguia levar o prato, ele chegava na lavanderia e pegava um pedaço de sabão e levava, provavelmente também para vender ou trocar por bebida. Mas mesmo assim, se ele voltasse pedindo comida, se meu pai estivesse em casa, ele voltava de barriga cheia. Pai, o senhor é “o cara”.
Pai, escuta esta do teu filho Ribamar: quando eu crescer quero ser como o senhor.
Deu uma senhora lição de moral, melhor, de ética e calou um “alemão” que dava dois dele.
Uma das suas características que mais admiro é o amor: seu carinho, respeito e fidelidade com a minha mãe. Isto também quero fazer quando crescer. A fidelidade eu admiro demais e sou. O respeito eu chego apenas perto. O carinho está ainda longe. Não sei se conseguirei nesta vida mas acho tudo isso maravilhoso e, como sei que Deus conhece o meu coração e nem preciso falar para ele saiba, espero um dia, com Sua ajuda, conseguir. Acontece que, sendo bem sincero, não me esforço muito.
A gente gosta de chamar de valores morais. Nunca vi alguém usar a expressão que vou usar agora e que me parece mais adequada: valores éticos. Muito diferente a moral da ética. Eu e meus irmãos recebemos estas pérolas preciosas de vocês dois. Meu mais sincero agradecimento.
Inteligência. Inteligência e amor talvez sejam as duas características mais importantes do ser humano. Ao meu ver o amor é incomparavelmente o mais importante e Jesus concorda comigo (desculpem a arrogância de tratar Jesus assim com tanta intimidade e como se fôssemos pareceiros (ops, parceiros), mas é o que eu mais gostaria na vida, de ser seu parceiro). Senhor José Ferreira, meu pai, deve ter sido o homem mais inteligente que conheci em todos os meus quase 67. Conheci presencialmente muita gente e alguns poucos, bem poucos tão inteligentes quanto ele ou perto. Eu até diria que, felizmente, talvez tenha conhecido um ou dois mais inteligentes. Mas seria injusta a comparação pois os dois estudaram muito e tinham várias formaturas e meu pai nunca frequentou uma escola. Ele me falou que se reunia com um amigo para aprenderem a ler. Imagino que a mãe não lembre detalhes, nem ele, mas se lembrarem seria excelente ouvirmos. Quem aqui já ouviu falar em alguém que construiu a própria casa? Talvez alguns. Mas também a cama e outros móveis e, sendo analfabeto aprendeu sem nenhum curso, só olhando os técnicos fazerem, a construir máquinas fabricadoras de picolé. Esta eu nunca vi. Viver com ele por algum tempo (ele não tinha muito tempo para nós, pois trabalhava muito para sustentar todos os filhos que ele teve com dona Julieta (benção minha mãe?!)) foi algo que me ajudou e influenciou muito. Quando cresci percebi que quanto mais inteligente eu fosse melhor seria a minha vida e a das pessoas ao meu redor. Então investi muito do meu tempo em desenvolver a minha inteligência. Até hoje, não conheço ninguém, presencialmente, que tenha lido mais do que eu. Cuidado, pois ler muito não faz de alguém inteligente. Mas imagina você conviver presencialmente com seu José Ferreira, pensa aí consigo!!!???. Observa como ele se comporta, como ele se sai quando está com um problema, como ele pensa, sente e age. Aprendi muito, nem tudo, mas tentei. Então quis conhecer outros grandes homens e como eles resolviam seus problemas. Isso me fez sair lendo e estudando muito. Faço até hoje, mas atualmente minhas leituras são mais seletivas e a maior parte é sobre o meu trabalho. Além de ler muito, estudar e refletir sobre a inteligência, a criatividade e outras maravilhosas características humanas eu acabei me formando em engenharia civil, que é um curso muito exigente em termos intelectuais. Depois abandonei, melhor, troquei por outra área ainda mais exigente, que é a informática (foi paixão. Foi maus engenharia, mas vc também foi importante para mim). Sabe quem me motivou e praticamente me forçou a fazer engenharia? Seu José! Foi sim. Talvez ele não lembre, mas eu queria ser artista e há muitos anos, antes da faculdade, pedi a ele para pagar um curso de desenho humorístico para eu fazer por correspondência, pelos correios pelo IUB. Ná época (final dos anos 60, início dos 70, não lembro exatamente) não se falava em computador e nada de internet. Quem quisesse estudar algo que não houvesse próximo, teria que ser “por correspondência”. Então meu pai me responde: isso não tem futuro não meu filho. Faça de desenho arquitetônico (nem lembro se ele sabia o que era isso, mas ele queria que eu realizasse o sonho dele, imagino, de ser engenheiro), que é para depois ser engenheiro. E foi o que aconteceu. Abandonei, na prática, a engenharia, mas o curso me deu uma base forte para a minha paixão, que é a programação de compitadores.
Patrimônio. Ele, como analfabeto, (ops, desculpe pai, pois hoje ele não mais é analfabeto, sabe ler, escrever e fazer contas como poucos), conseguiu um patrimônio, que imagino que seu filho, formado, com especialização, funcionário público federal e programador com muita experiência, tem quase certeza que nunca vai conseguir. Sem entrar muito neste mérito, mas apenas para ressaltar seu potencial. Um monstro, no bom sentido.
Votos do fundo do meu coração: Feliz Aniversário Pai!